25 de abril de 2013

André Brochu: Estar morto [Être mort]

Brochu nasceu em Saint-Eustache, em 1942. Poeta, romancista e ensaísta, foi professor na Universidade de Montreal. Colabora (seja como ensaísta, seja como poeta) em inúmeras revistas canadenses, sendo inclusive um dos fundadores da Parti pris. Entrou para a Academia de Letras do Québec em 1996.



Estar morto
Tradução: Thiago Mattos

Quanto esforço para não assumir a curva das coisas
Para não se casar com a forma da sua sombra

A angústia sua às portas da noite
O vento carrega mudos pássaros
Envoltos em risos
E a água se embala nos braços dos afogados

Quanto esforço para não
Assumir a curva do tempo

Quando o astro diz meia-noite
E o relógio é silêncio
E a hora é prisioneira
Do seu passar

Livre captada
Face da agonia
Face espoliada

Quanto esforço para não estar morto.



Être mort
In: Privilèges de l'ombre, 1961

Quel effort pour ne pas prendre la courbe des choses
Pour ne pas épouser la forme de son ombre

L'angoisse sue aux portes de la nuit
Le vent charrie des oiseaux taciturnes
Mêlés de rires
Et l'eau berce aux bras de ses noyés

Quel effort pour ne pas
Prendre la courbe du temps

Quand l'astre dit minuit
Et l'horloge est silence
Et l'heure est prisonnière
De son déroulement

Libre captée
Visage d'agonie
Visage spolié

Quel effort pour ne pas être mort.

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