Edmond Jabès nasceu no Cairo, em 1912, e morreu em Paris, em 1991. Apesar
de ser mais comumente localizado no âmbito da poesia francesa, a presença de
temas e paisagens do Egito é marcante na sua poesia. Sua obra é extensa e
variada, e recebeu textos críticos de nomes como Derrida, Blanchot e Levinas.
Uma outra tradução (de Ivo Barroso) do poema abaixo pode ser encontrada
em http://www.dicta.com.br/edicoes/edicao-4/alguns-poetas-de-expressao-francesa/
A água
Tradução de
Thiago Mattos
Antes, há a
água.
Depois, há a
água;
durante, sempre
durante.
- A água do
lago?
- A água do
rio?
- A água do
mar?
Jamais a água
sobre a água.
Jamais a água pela
água;
mas a água onde
não há mais água;
mas a água na memória
morta da água.
Viver na morte
viva
entre a
lembrança e o esquecimento da água,
entre
a sede e a
sede.
A água entre
Cerimônia.
A água se
instala
e flui:
Fertilidade.
Sempre a água
pela água.
Sempre a água
sobre a água.
Abundância.
- O deserto foi
minha terra.
O deserto é
minha viagem, minha errância.
Sempre entre
dois horizontes;
entre horizonte
e
apelos de
horizontes.
Além-fronteiras.
A
areia brilha como a água
na
sede inextinguível.
Tormento
que a noite adormece.
Nossos
passos fazem jorrar a sede.
Ausência.
- A água do lago?
-
A água do rio?
-
A água do mar?
Logo
virá a chuva
para
lavar a alma dos mortos.
Deixem
passar as sombras queimadas,
as
manhãs de árvores sacrificadas.
Fumaça.
Fumaça.
L’eau
Avant, il y a l'eau.
Après, il y a l'eau ;
durant, toujours durant.
- L'eau du lac ?
-
L'eau de la rivière ?
-
L'eau de la mer ?
Jamais
l'eau sur l'eau.
Jamais
l'eau pour l'eau ;
mais
l'eau où il n'y a plus d'eau ;
mais
l'eau dans la mémoire morte de l'eau.
Vivre
dans la mort vive
entre
le souvenir et l'oubli de l'eau,
entre
la
soif et la soif.
L'eau entre
Cérémonie.
L'eau s'installe
et coule :
Fertilité.
Toujours l'eau pour l'eau.
Toujours l'eau sur l'eau.
Abondance.
- Le désert fut ma terre.
Le désert est mon voyage, mon
errance.
Toujours
entre deux horizons ;
entre
horizon et
appels d'horizons.
Outre-frontière.
Le sable brille comme l'eau
dans la soif inextinguible.
Tourment que la nuit endort.
Nos
pas font gicler la soif.
Absence.
-
L'eau du lac ?
-
L'eau de la rivière ?
-
L'eau de la mer ?
Viendra,
bientôt, la pluie
pour
laver l'âme des morts.
Laissez
passer les ombres brûlées,
les
matins aux arbres sacrifiés.
Fumée.
Fumée.
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