Anne Hébert (1916, Portneuf) recebeu inúmeros prêmios no Québec e no exterior. Sua obra é uma das mais importantes da literatura quebequense moderna. Publicou poemas, contos, romances, ensaios. Após uma primeira viagem à França em 1954, aí fixa residência, fazendo frequentes viagens ao Québec. O essencial da poesia de Anne Hébert está no livro Tombeau des rois, de onde retiramos o poema abaixo, do qual, até a data deste post, não constavam na internet outras transcrições.
Nossas mãos no
jardim
Trad.: Thiago Mattos
Tivemos essa ideia
De plantar nossas mãos no jardim
Galhos de dez dedos
Pequenas árvores de ossadas
Cara platibanda.
O dia todo
Havíamos esperado a ave ruiva
E as folhas frescas
Nas nossas unhas polidas.
Nenhuma ave
Nenhuma primavera
Caíram na armadilha das nossas mãos cortadas.
Para uma só flor
Uma só minúscula estrela colorida
Um só voo de asa calma
Para uma só nota pura
Três vezes repetida.
Será preciso a próxima estação
E nossas mãos derretidas como água.
Nos mains au
jardin
In: MAILHOT, Laurent; NEPVEU, Pierre. La poésie québécoise. Montréal: Typo, 1990.
Nous avons eu cette idée
De planter nos mains au jardin
Branches des dix doigts
Petits arbres d’ossements
Chère plate-bande.
Tout le jour
Nous avons attendu l’oiseau roux
Et les feuilles fraîches
À nos ongles polis.
Nul oiseau
Nul printemps
Ne se sont pris au piège de nos mais coupées.
Pour une seule fleur
Une seule minuscule étoile de couleur
Un seul vol d’aile calme
Pour une seule note purê
Répétée trois fois.
Il faudra la saison prochaine
Et nos mains fondues comme l’eau.
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