14 de dezembro de 2012

Emmanuel Hocquard: Elegia 5 [Elégie 5] (trecho)



Emmanuel Hocquard nasceu em Cannes, em 1940. Poeta e tradutor, foi ainda o criador da editora Orange Export Ldt. (fechada em 1986) e dirigiu o departamento de literatura contemporânea do Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris. Também se destaca pelos seus trabalhos de divulgação da poesia americana contemporânea na França.


Elegia 5 (trecho)
Tradução: Thiago Mattos

I

Lá fora, nem chuva, nem vento. É a noite,
e não é ainda a manhã se aproximando.
Um tempo morto no começo do inverno: o tempo das provisões de bordo,
a parte dos homens com a parte dos ratos,
a parte das palavras;
o tempo sem amor em que o espírito atento
não tem mais nada do que se alimentar,
a não ser alguma coisa como
um ruído já distante e no entanto familiar
de folhagem balançando no antigo vento das noites
de inverno.
Dezembro, descendo com muito cuidado
esse caminho tão inclinado
escorregadio entre os muros por causa das chuvas da véspera
e dos pequenos galhos.
Escavando em vão a penumbra dos olhos
em busca de detalhes complementares
suficientemente convincentes para esclarecer a situação
sob um novo ângulo,
nada encontramos que já não conhecêssemos,
nem sequer o ouriço
que se arriscava atravessando a rua

Ou a grade do jardim que não rangia quando chovia,
o que não provava nada,
e nos levaria hoje a concluir que está tudo
em ordem; que o som das folhas
é o som das folhas; e o silêncio
uma feliz necessidade.


Elégie 5 (extrait)

In: DECAUDIN, Michel (org.) Anthologie de la poésie française du XXème siècle, v. II. Paris: Gallimard, 2000.


Dehors,  ni  pluie,  ni  vent.  C'est  la  nuit,
et  ce  n'est  pas  encore  l'approche  du  matin.
Un  temps  mort  au  début  de  l'hiver  :  le  temps  des  provisions  de  bord,
la  part  des  hommes  avec  la  part  des  rats,
la  part  des  mots  ;
Le  temps  sans  amour  où  l'esprit  en  éveil
n'a  plus  rien  à  se  mettre  sous  la  dent
si  ce  n'est  quelque  chose  comme
Un  bruit  déjà  lointain  et  pourtant  familier
De  feuillages  froissés  dans  l'ancien  vent  des  nuits
d'hiver.
Décembre,  en  descendant  avec  beaucoup  de  précautions
ce  chemin  très  en  pente
Rendu  glissant  entre  les  murs  par  les  pluies  de  la  veille
et  les  petites  branches.
Fouillant  en  vain  la  pénombre  des  yeux
à  la  recherche  de  détails  complémentaires
suffisamment  probants  pour  éclairer  la  situation
sous  un  angle  nouveau,
Nous  n'avons  rien  trouvé  qui  ne  nous  fût  déjà  connu,
pas  même  le  hérisson
qui  se  risquait  à  traverser  la  rue

Ou  que  la  grille  du  jardin  ne  grinçait  pas  quand  il  pleuvait,
ce  qui  ne  prouvait  alors  déjà  rien
Et  nous  inciterait  aujourd'hui  à  conclure  que  l'affaire
est  classée  ;  que  le  bruit  des  feuilles
est  le  bruit  des  feuilles  ;  et  le  silence
une  nécessité  heureuse.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi eu acho que voce fas um trabalho muito daora nesse blog. meu irmao me falou que era legau e eu abri vendo que e mesmo maneiro e divertido.

Almilton